A cadeira da presidência, a queride da ONG e as abelhas rainhas.
Qual pode ser a similaridade entre alguém que ocupa a presidência de uma nação e alguém que possui uma organização que apoia a causa animal, ou outra causa das várias importantes que merecem a nossa atenção?
Caso estes dois indivíduos apareçam com frequência em seu feed, você pode estar olhando para um Paranoico Megalômano na tela do seu telefone!
Agora que consegui sua atenção, dê uma boa respirada e siga o fio, você vai entender!
A internet é dos campos mais vastos em que habitamos cotidianamente, a sua linguagem – alô Lacan – pode trazer questionamentos e aprendizados importantes, assim como ser a porta de entrada para visões de uma realidade distorcida. Tudo depende de quem conduz o leme, neste caso, as teclas.
Neste labirinto existe uma figura que se destaca, pois encontra neste solo todo o alimento de que precisa para crescer e criar raízes: O Paranoico Megalômalo.
Este indivíduo embalado pela busca de uma grandiosidade desmedida e desconfiança constante, encontra nas plataformas digitais o palco perfeito para apresentar a sua visão de mundo. E encontra sucesso na plateia da coletividade virtual.
Você conhece algum individuo que consegue movimentar uma massa considerável de pessoas no mundo (offline e/ou online) ao utilizar suas plataformas digitais, onde atua com seu ego inflado e um discurso (coerente ou não) que é sempre sedutor? Discurso esse que para o seu público, tem o peso de uma verdade que não pode e não deve ser questionada?
Aqui poderíamos voltar ao título do texto. Não faz diferença se o Paranoico Megalômalo está conduzindo uma nação ou se está pulando muro de casas para resgatar crianças ou animais abandonados. Ambos farão isso de maneira teatral! Farão rolar no feed uma chuva de stories, carrosséis de fotos, lágrimas seguidas da frase: “Quem me conhece sabe!” e uma performance toda planejada para comover e manipular o seu público.
Para compreender um Paranoico Megalômalo é preciso entender que este sujeito está imerso em um mar de narcisismo e que precisa inflar seu ego a proporções colossais, uma vez que o confronto com sua própria imagem é algo muito doloroso. As redes sociais se tornam o campo perfeito de reprodução para que esta busca pela autoadmiraçao e validação do outro, seja um espelho interminável para curtidas e compatilhamentos que reafirmam sua grandiosidade.
Eu particularmente tenho a fantasia que estes sujeitos postam conteúdo ao som de Hot Stuff cantado por Donna Summer.
Agora voltando aos trilhos, cuidado! O Paranoico Megalômalo não deve ser subestimado ou encarado como uma piada. Lacan nos fala do Outro e como o sujeito se relaciona com esse Outro. Para o paranoico o mundo é um campo minado, onde cada interação é potencialmente perigosa.
Nas redes sociais essa percepção se potencializa, com cada comentário e crítica sendo filtrado através de uma lente de desconfiança e hostilidade. A interação entre a megalomania e a paranoia cria uma dinâmica peculiar nas redes sociais. O paranoico megalômalo não apenas procura validar sua grandiosidade, mas também está em uma busca constante de inimigos que desafiem a sua visão de mundo. É nesta conexão do “nós contra eles” onde ele capta nossa atenção e alimenta o ódio nosso de cada dia, aniquilando qualquer possibilidade de conexão com quem pensa diferente.
Este texto não trata especificamente de quem é ou não um Paranoico Megalômalo nas redes, pois eles podem movimentar as massas de maneira negativa ou positiva, ainda que seus métodos sejam questionáveis. Mas sim dos impactos destas ações.
Ele se posiciona como o salvador, um portador da verdade única! Suas postagens são construídas de maneira a polarizar, a dividir o mundo entre aqueles que estão com ele e aqueles que estão contra. A dinâmica de grupo nas redes sociais facilita um fenômeno de contágio psíquico, onde as idéias e percepções do paranoico megalômano se espalham e se intensificam.
A teoria das posições esquizoparanóide e depressiva de Melanie Klein nos apresenta uma lente para examinar essa dinâmica. Os seguidores frequentemente imersos na posição esquizoparanóide, tendem a uma visão de mundo em termos igualmente divididos entre bons e maus, com pouco espaço para ambiguidade. O mundo se torna perigoso quando pensamos que só há luz ou trevas, nada vai ao meio.
A visão maniqueísta do paranoico megalômalo se encaixa na perfeição de um abraço materno, criando neste momento um ciclo de retroalimentação que reforça crenças extremistas e comportamentos divisivos.
As redes sociais rapidamente se transformam em um ponto de encontro para essa figura e seus seguidores. As redes sociais agem como um megafone, levando a voz desse paranoico megalômalo a um público cada vez mais distante, aumentando o poder de sua influência. A interação constante, o anonimato relativo e a capacidade de criar câmaras de eco ideológicas (as famosas bolhas) permitem que a visão de mundo do paranoico megalômalo floresça, dê frutos e se espalhe pelo ar. Cada seguidor conquistado age como uma abelha, polenizando a imagem e ideais do paranóico em novos campos, enquanto ele se senta em seu trono ilusório, como uma abelha rainha que domina sua colméia com mão de ferro.
É fácil perceber que nesse cenário, os seguidores – você, eu- representamos como abelhas operárias um papel crucial nesta jornada. Passamos a acólitos, convertidos, aqueles que não apenas validam a visão grandiosa do líder, como também estão dispostos a agir em seu nome! É aí que surge o perigo! A forma com que cada um de nós se relaciona com esta figura é o ponto deste texto.
Fica a pergunta: Como você se relaciona com estas figuras na sua timeline? Qual o tamanho do espaço que dá a elas na sua existência?
Reflita sobre as dinâmicas de poder, identidade e crença dentro do seu espaço digital e as consequências disso no seu entorno.
Como andam as suas relações offline depois que foram atravessadas por suas relações online?
Ao entender melhor suas interações, você começa a desatar os nós dos fios que tecem a complexa tapeçaria das suas relações. Abandona a certeza de um coletivo apontando o caminho, avançando para a pergunta que pode nos reafirmar como sujeitos autônomos: Este é o melhor caminho para mim?
Pensar por si pode ser doloroso no início, mas é libertador!
Lembre-se de que conhecimento é poder! E o conhecimento de si é o que te dá instrumentos para agir com consciência e se imunizar contra os efeitos negativos de um paranoico megalômalo em sua vida. Para isso, você tem algumas opções que podem ajudar: investir em um processo de coaching dedicado ou uma análise mais profunda em um processo terapêutico.
Faça análise!
Um abraço.