Hera e o Apego: Uma Visão Psicanalítica
O mito de Hera, esposa de Zeus e deusa grega do casamento e da família, atravessa o tempo e chega até a contemporaneidade. Quando usamos a lente da psicanálise, atravessada pela Teoria do Apego para entender este mito, Hera pode ser escutada como uma personificação das dinâmicas emocionais que moldam os vínculos humanos mais profundos, seja com nossos parceiros, filhos ou figuras de autoridade.
Aqui vamos trabalhar este atravessamento, onde teorias que podem se opor como os conceitos psicanalíticos trazidos originalmente por Freud e a Teoria do Apego propostas por John Bowlby e após isso, ambas sendo desenvolvidas por diversos teóricos, também podem se cruzar e se completar quando refletidos nos comportamentos contemporâneos, na mitologia e nos relacionamentos humanos.
A Teoria do Apego e a Figura de Hera
A Teoria do Apego, formulada por Bowlby, explica a importância de relacionamentos estáveis e seguros desde o nascimento para o desenvolvimento emocional saudável dos sujeitos. Hera, como a deusa do casamento – entendendo por força do mito o casamento dentro do recorte heteronormativo, monogâmico e eurocêntrico – simboliza o ideal de estabilidade conjugal, mas também expressa os dilemas que surgem quando o apego se torna um fardo emocional. As expectativas de Hera quando atravessadas pelo comportamento de Zeus — marcadas por traições, ciúmes, vingança e lua de mel — refletem os aspectos disfuncionais de relações baseadas em insegurança e controle por medo da perda, temas que aparecem frequentemente na nossa clínica de terapia psicanalítica.
Essas dores são acolhidas na terapia contemporânea, onde pacientes podem trazer em um ambiente seguro seus sentimentos de abandono ou apego excessivo, que muitas vezes têm raízes na interpretação das experiências infantis que constroem padrões de comportamento repetidos em suas relações adultas. Assim como Hera reagia ao comportamento de Zeus com ciúmes e vingança, com a esperança de que o casamento espelhasse os seus desejos, as pessoas muitas vezes replicam comportamentos possessivos ou defensivos nas suas próprias relações, buscando manter um vínculo emocional que pode estar repleto de fantasia que é, ao mesmo tempo, busca por segurança e fonte de angústia.
A Relevância Psicanalítica no Cotidiano
No contexto da terapia presencial ou terapia online, esses comportamentos podem ser acolhidos e trabalhados em profundidade, ajudando os indivíduos a entenderem melhor seus padrões de apego e a se libertarem de ciclos destrutivos. Pacientes que buscam terapia psicanalítica frequentemente relatam dificuldades em manter relacionamentos saudáveis, o que pode estar enraizado em um tipo de apego que se assemelha à relação de Hera com Zeus: desejam a proximidade, mas ao mesmo tempo sentem medo da perda ou da traição, podendo assim desenvolver comportamentos ambivalente e controversos.
Exemplos do Apego no Cotidiano
- Ciúmes excessivo em relacionamentos amorosos: Uma pessoa que experimenta ciúmes constante, como Hera diante das traições de Zeus, pode se sentir ameaçada mesmo quando o parceiro ou a parceira cumpre os acordos de fidelidade. Esse apego disfuncional pode gerar insegurança constante e brigas frequentes, tornando a relação desgastante. Assim como Hera perseguia as outras parceiras de Zeus, uma pessoa apegada pode acabar monitorando excessivamente o parceiro ou parceira, o que compromete a confiança e a liberdade na relação.
- Controle parental excessivo: Figuras de maternagem ou paternagem, podem ter dificuldade em respeitar a busca por autonomia dos filhos, resultando em uma superproteção que sufoca o desenvolvimento emocional da criança. Semelhante ao apego possessivo de Hera à sua posição como esposa de Zeus e rainha do olimpo, esses pais podem sentir que o controle é a única maneira de garantir a proximidade e segurança de seus filhos, criando um ciclo de dependência emocional e futuramente se sentindo sobrecarregados por verem diante de si sujeitos adultos dependentes e imaturos.
- Dificuldade em romper com relacionamentos abusivos: Assim como Hera continuava ao lado de Zeus, e Zeus ao lado de Hera, apesar do comportamento abusivo de ambos os lados, o que causava grande exposição e humilhação, muitas pessoas se mantêm em relacionamentos prejudiciais por medo da solidão ou de perder algo que julgam essencial. Vale ressaltar aqui que podemos também olhar para o apego a um trabalho, uma amizade, status, etc. Esse apego pode impedir a pessoa de buscar ajuda ou de reconhecer que sua saúde emocional está em risco.
Reflexões Psicanalíticas sobre o Apego
A história de Hera se apresenta como um espelho para compreender as complexidades do apego nas relações humanas. Ao traçar paralelos entre a mitologia e a teoria psicanalítica, podemos perceber que as dinâmicas emocionais e os desafios que enfrentamos hoje são, em essência, humanos e atemporais. A terapia psicanalítica online nos oferece a oportunidade de explorar essas questões profundamente, ajudando-nos a ressignificar padrões antigos em novas formas relacionais, mais saudáveis e equilibradas. E isso pode ser realizado no local onde você se sente em maior segurança para falar sobre o que é importante para você.
Se você busca entender mais sobre como seus padrões de apego influenciam suas relações, busque um processo terapêutico. A psicanálise oferece um espaço seguro para essa exploração, permitindo uma jornada de autoconhecimento e cura.