Gustavo Horta
  • Home
  • Serviços
    • Psicanálise
    • Perdas e Lutos
    • Grupo Gratuito
    • Mediação de Conflitos
    • Saude Mental no Ambiente Corporativo
    • Intervenção Assistida por Animais IAA
    • Sucessão Familiar
    • Preparação para RQE/TED
    • Treinamento de Equipes
    • Constelação Familiar
    • Life Coaching
  • Sobre
  • Depoimentos
  • Blog
  • Contato

BLOG

Quando um rótulo vira moda
27 de fevereiro de 2025 | Análise, Importância da Terapia Psicanalítica, Psicanálise, Saúde Mental

Quando um rótulo vira moda

Na última semana, conversando com uma grande amiga que é mãe, discutimos sobre o conceito de “mães narcisistas”.

Ela me enviou textos de sua terapeuta que apontavam a possibilidade de sua própria mãe se encaixar nesse perfil. Confesso que conheço a mãe em questão: no universo psicanalítico de Winnicott, ela não foi uma “mãe suficientemente boa”, mas está longe de carregar um diagnóstico de Transtorno de Personalidade Narcisista.

O que chega a nossa clínica hoje é uma tendência preocupante: pessoas que não se sentiram plenamente amadas por suas mães estão rotulando-as como “narcisistas”.

O termo viralizou em redes sociais e livros de autoajuda, mas será que estamos banalizando diagnósticos sérios ou buscando respostas para dores que são absolutamente legítimas?

Ilustração de uma mulher, possivelmente a mãe, sendo observada por uma criança, representando a importância da mãe para as pessoas, assunto tratado e trabalhado em terapia e análise de psicanálise.

Diagnóstico em Alta, Realidade em Baixa

É comum receber analisandos que chegam ao consultório com autodiagnósticos de “filhos de mães narcisistas”, munidos de listas de sintomas retirados de livros ou posts online. Vejam, quando eu digo: Sou filho de alguém narcisista, estou falando sobre mim, sobre minha realidade e minha dor. Quando digo: Minha mãe é narcisista, deixo de falar de mim e passo a falar sobre outra pessoa.

A intenção é sempre válida — entender a própria história —, mas o risco é reduzir relações complexas a rótulos simplistas.

Um diagnóstico preciso é crucial para tratamentos eficazes. Condições como depressão ou ansiedade exigem abordagens específicas, e rotular alguém como “narcisista” sem critério pode distorcer a realidade.

Freud alertava: diagnósticos rápidos são mecanismos de defesa (do analista). Classificar a mãe como narcisista pode ser uma forma de evitar confrontar ambivalências (como amor e ódio coexistentes). A análise ajuda o sujeito a reconhecer como internalizou a mãe narcisista ou não e, assim, reescrever sua narrativa.

Melanie Klein complementaria: projetamos nossas partes “más” nos outros para preservar nossa imagem interna. Ao transformar a mãe em “vilã narcisista”, o sujeito se coloca como vítima, ignorando nuances dolorosas.

Partindo do senso comum que – se a culpa é minha, eu coloco em quem eu quiser – faz parte do jogo receber na clínica indivíduos adultos que não tomam para si o lidar com suas dores, faz parte de um bom processo analítico caminhar na direção deste enfrentamento.

 

Mães Reais: Por Que Fugimos do Concreto?

Na psicanálise, não há espaço para estereótipos. Cada relação mãe-filho é única, tecida por histórias inconscientes, silêncios e gestos. Rotular uma mãe como “narcisista” apaga sua humanidade — falhas, medos e desejos — e transforma-a em um personagem unidimensional.

O que se perde nesse processo? A riqueza da subjetividade de quem está em análise.

A análise busca entender como a figura materna foi internalizada, não julgar seu caráter. Mães reais não são monstros ou santas: são mulheres que, como todos, carregam feridas e limitações. Ao demonizá-las, o sujeito evita confrontar sua própria história — incluindo a dor de amar alguém que o magoou.

Winnicott diria: uma mãe não precisa ser perfeita, apenas “suficientemente boa”. Essa ideia desconstrói a fantasia da maternidade idealizada, abrindo espaço para aceitar que falhas são parte do humano.

Ilustração que mostra uma pessoa com nuvens saindo de sua cabeça, em um formato que simboliza percepção do autoconhecimento, para representar os resultados durante e após uma sessão de análise e terapia de psicanálise.

Afinal, Ser Mãe É Dar Conta!

Mãe é aquela que não precisa ser impecável, mas presente o bastante para criar um ambiente seguro.

Inicialmente, ela atende às necessidades do bebê com dedicação total; depois, aos poucos, permite pequenas frustrações para que a criança desenvolva autonomia.

Essa mãe não é narcisista — é humana. Ela erra, se cansa, tem desejos fora da maternidade.

A sociedade, porém, cobra perfeição: mães devem ser abnegadas 24 horas por dia. Quando falham, são taxadas de egoístas. Vera Iaconelli, psicanalista e autora de Manifesto Antimaternalista, critica essa dupla moral: pais que priorizam trabalho são “provedores”; mães que fazem o mesmo são “narcisistas”.

Aqui, o problema não é a mãe, mas a cultura que a condena por não ser um arquétipo inatingível.

 

Papai Foi pra Roça?

Por que não falamos de “pais narcisistas”? A resposta está no machismo estrutural. Mães são julgadas por qualquer desvio do papel de cuidadora; pais, mesmo ausentes, são vistos como algo dentro do padrão.

Um pai autoritário e controlador é “rígido”; uma mãe com o mesmo comportamento é “tóxica”.

Estudos mostram que o Transtorno de Personalidade Narcisista é mais diagnosticado em homens, mas os pais raramente são alvo dessa crítica.

A psicanalista Vera Iaconelli aponta: rotular mães como narcisistas é puni-las por ousarem existir além da maternidade. Enquanto isso, pais escapam do escrutínio — mesmo quando sua negligência é evidente.

A função da parentalidade em qualquer formato que se apresente é: Construir um ambiente seguro onde o indivíduo em formação possa sair, tomar as porradas que são inerentes à vida –  desde o jardim de infância –  e retornar a este ambiente para se recuperar. Para em seguida sair novamente, até que possa ser responsável pelo seu autocuidado e a construção de seu próprio ambiente.

Tudo o que é cobrado além disso, é construção social romantizada – da Sagrada Família dos livros mitológicos do catolicismo, até a família margarina.

Ilustração que mostra uma pessoa com nuvens saindo de sua cabeça, em um formato que simboliza percepção do autoconhecimento, para representar os resultados durante e após uma sessão de análise e terapia de psicanálise.

Psicanálise Sem Rótulos

A psicanálise não nega a existência de mães narcisistas, mas recusa simplificações. Para Freud, o narcisismo materno surge quando a mãe vê o filho como extensão de si, não como indivíduo. Lacan acrescentaria: ela o transforma em objeto de seu desejo, anulando sua subjetividade.

A chave sempre estará na análise individual, não no rótulo que ao generalizar, desumaniza.

Como Melanie Klein ensina, o trabalho é integrar as partes “boas” e “más” da relação, em vez de polarizá-las. O objetivo não é culpar a mãe, mas entender como suas falhas ecoam na vida psíquica do paciente.

Estas falhas dos cuidadores originais, ecoam em todos nós. Se foi amor demais, é porque foi demais. Se foi amor de menos, é porque foi de menos. Para crescer nós precisamos simbolizar as nossas faltas, e os nossos cuidadores nos dão acesso a elas sem cobrar a mais por este serviço!

Estatísticas mostram que o Transtorno de Personalidade Narcisista afeta entre 0,5% e 6,2% da população global — números que incluem homens e mulheres a depender da cultura. Ou seja: casos reais existem, mas não justificam a epidemia de diagnósticos nas redes.

Ilustração sombria que mostra uma mulher jovem olhando para um espelho e enxergando um reflexo sem forma, apenas contornos escuros, simbolizando o mergulho na personalidade que é estimulado por uma análise/ terapia de psicanálise.

Para Além do “Inimigo Narcisista” existe a Liberdade Possível

A moda das “mães narcisistas” reflete um mal-estar: a dificuldade de lidar com relações ambivalentes em um mundo que exige certezas. O  movimento da análise nos oferece um caminho mais fértil: substituir rótulos por perguntas.

  • Como a história da minha mãe influencia ou influenciou seu comportamento?

  • Que partes de mim ainda buscam seu reconhecimento?

  • Como construir minha própria estrada e deixar de viver a estrada que foi construída para mim?

Ao enfrentar essas questões, o sujeito não nega a dor, mas recupera o direito à complexidade — da mãe, de si mesmo e do amor que, mesmo imperfeito, pode ser refeito.

Rotular é fácil; analisar é revolucionário!

A psicanálise não promove vilões ou vítimas, e sim convida ao mergulho nas sombras para encontrar luz própria. Afinal, não existe isso de uma criança; existe uma criança e alguém.

Adultos assim como os bebês não existem isoladamente; só podem ser compreendidos dentro das relações.

Análise queridxs, análise.

ilustração de uma paciente e uma terapeuta em uma sessão de psicanálise

Gostou? Compartilhe este artigo:

Navegação de Post

Artigo anterior
Próximo artigo

Categorias

Saude mental corporativa Apego Life Coaching Importância da Terapia Psicanalítica Sem categoria Autoconhecimento Análise Saúde Mental Psicanálise

Mais recentes

  • Shippando Fausto e Dorian Gray: a Negação do Erro
  • Quanto Pesa a sua Consciência?
  • Quando um rótulo vira moda
  • Zen Falta – A Geração Z e a Castração.
  • Ódio: uma cola que nos une!

Conheça Gustavo Horta

Sou um profissional interdisciplinar com formações em diversas áreas das relações humanas e saúde mental: Psicanálise, Life coaching, Intervenções em luto, Mediação de conflitos, Constelação Familiar Sistêmica e Intervenções Assistidas por Animais. Complementando estas formações, possuo mais de 20 anos de carreira profissional bem-sucedida, passando por diversas áreas como Gestão de Pessoas, Gestão de Cultura e Gestão de Projetos Esportivos.

Conheça

Gustavo Horta

Terapia e Desenvolvimento Humano